terça-feira, 28 de agosto de 2007

Notas sobre um escândalo (Notes on a scandal, 2006)




O ano de 2006 realmente foi um ano de filmes ótimos, um período muito produtivo. Tivemos filmes excelentes, como A Rainha, Os Infiltrados, Pequena Miss Sunshine, O Ilusionista, Pecados Íntimos, tivemos até obra prima, como O Labirinto do Fauno, e ainda tivemos o ótimo Notas sobre um escândalo.


Quando Sheba Hart (Cate Blanchett) começa a trabalhar na escola St. George como a nova professora de arte, sua colega de trabalho Barbara (Judi Dench) sente que há algo errado nisso. Sheba inicia um romance com um de seus alunos – o que é terminantemente proibido na instituição - e Barbara se torna a maior guardiã desse segredo.


Com um roteiro adaptado do livro de Zoe Heller por Patrick Marber (mesmo roteirista do elogiado Closer), Notas sobre um escândalo possue suas falhas, um final muito ordinário, algumas vezes foge da natureza do personagem, demonstrando alguma insegurança, mas o que vale mesmo é o seu conteúdo intimista e moralista.


O diretor Richard Eyre (do ótimo Íris) fez um trabalho bastante regular, se concentrando no seu grande e único triunfo, Blanchett e Dench. Transformando o personagem de Bill Nighy em alguém unidimensional, sem grande importância, mesmo quando ele deveria ser um dos mais importantes. Richard Eyre nunca foi um grande diretor, apenas sabe tirar performances memoráveis de seus atores.


O filme, é óbvio, ficou muito marcado por ter o embate de duas grande atrizes da atualidade. E as duas não decepcionam nem de longe. Cate Blanchett esbanja sensualidade, charme e beleza com seus cabelos incrivelmente claros. Judi Dench, minunciosamente, passeia por sentimentos como paixão, deboche, sarcasmo, e até ciúmes, claramente ela faz uma alusão ao esteriótipo de bruxa que temos, uma velha amarga, feia, cheia de rugas, e com uma voz assustadora. É isso que Dench faz, e é esse o ponto crucial de sua performance, ela explicita sua velhice, e com uma entonação de voz de dar inveja a qualquer ator, ouvir ela dizer "She´s the one I´ve waited for" ou "I always knew we be friends" é como música.


A Trilha sonora do ótimo compositor Philip Glass, que criou trilhas memoráveis para As Horas ou O Show de Truman. também é maravilhosa, as músicas são marcantes.


Resumindo, Notas sobre um escândalo é um filme memorável, mais por parte de seus competente elenco, e não por seu diretor ou roteiro.




NOTA 7,5

sábado, 18 de agosto de 2007

Questão de vida (Nine Lives, 2005)


O Novo filme do diretor Rodrigo Garcia que ganhou o Leopardo de Ouro e o Leopardo de Bronze de Melhor Atriz (para todas as mulheres do elenco) no Festival de Locarno é um drama independente sobre medos e inseguranças.

Nove episódios independentes que retratam momentos cruciais na vida de suas protagonistas. A presidiária Sandra (Elpidia Carrillo) sonha em voltar a falar com o filho; Diana (Robin Wright Penn) reencontra um antigo amor; Holly (Lisa Gay Hamilton) deseja se vingar de seu padrasto; Samantha (Amanda Seyfried) luta para reconciliar os pais; Sonia (Holly Hunter) fica atordoada quando seus amigos descobrem um segredo; Lorna (Amy Branneman) consola o ex-marido após o suicídio de sua segunda esposa; Ruth (Sissy Spacek) pensa em trair o marido; Camille (Kathy Baker) enfrenta as conseqüências físicas causada pela dependência química; e Maggie (Glenn Close) vive conforme as vontades da filha.

Rodrigo García, filho de Gael García Marquez, prova o que prometeu em Coisas que você pode dizer só de olhar para ela, que é um diretor competentíssimo, unindo com extrema delicadeza essas nove histórias dessas mulheres com seus medos e problemas, o filme é algo tão maravilhoso de se ver, é algo tão terno o cuidado dele com as atrizes, com os closes, planos e tudo mais que se torna uma experiência única. Assim como Todd Field, Rodrigo García é um diretor de atores, que sabe os conduzir.

Sem dúvida a melhor história contada ali, é a (triste) história da personagem da Glenn Close e Dakota Fanning, ver Close contracenando com Fanning é inspirador, é incrível como a Dakota Fanning consegue ser uma maravilhosa atriz mirim, a mais comovente que fecha o filme com chave de ouro. Outras histórias contadas também são muito importantes para o roteiro, como a de Kathy Baker (que tem que lidar com uma doença), Holly Hunter (que tem que lidar com os amigos que descobriram seu segredo) e Lisa Gay Hamilton (que quer se vingar do padrastro, a personagem com maior carga dramática do filme).

Fugindo da nova onde de filmes que contam com personagens e histórias que se intercruzam, como Babel, Crash - No Limite e outros, Questão de Vida não intercruza nenhuma personagem, nenhuma história, sendo dividia de um modo bem grosseiro, as histórias são divididas por nomes, cada uma tem de 10 a 12 minutos e quando acaba já aparece o nome da outra personagem e sua história. Eu diria que foi uma forma bem grosseira, mas isso não agride o filme em absolutamente nada. Nada é perfeito mesmo.

O filme foi exibido na mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio 2005, maravilhoso, comovente e triste, mas muito mal distribuído no Brasil, é muito difícil de encontrá-lo na locadoras, somente nas maiores.

Os últimos filmes do diretor Rodrigo García foram muito elogiados, alguns consideraram uma injustiça a atriz Robin Wright Penn não ter sido indicada ao Oscar por sua cena, no lugar das despropositadas indicações de Catherine Keener e Frances McDormand em 2006.

"Cada vida tem uma história e cada história merece ser contada" disse García, talvez isso tenha servido de inspiração para ele, afinal são todas mulheres comuns, donas de casa, madames. Ele com certeza enxerga uma beleza no interior da mulher para conhecê-las tão bem.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Wolf Creek - Viagem ao Inferno (Wolf Creek, 2006)


Baseado em fatos reais, Wolf Creek – Viagem ao inferno foi selecionado para o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cinema Independente de Sundance, o mais novo filme do diretor Greg McLean já se tornou, com certeza, um dos melhores exemplares do terror moderno.
Liz Hunter (Cassandra Magrath) e Kristy Earl (Kestie Morassi) são duas mochileiras inglesas que estão em meio a uma viagem, juntamente com Ben Mitchell (John Jarratt). Ao chegar ao Parque Nacional Wolf Creek, eles observam a paisagem da 2ª maior cratera do mundo. Quando decidem ir embora enfrentam problemas, pois seus relógios e o carro param de funcionar. É quando recebem a ajuda de um caminhoneiro, que passa pelo local e lhes oferece carona. Porém o que eles não contavam é que seriam levados a um acampamento localizado em uma mina abandonada, onde a viagem do trio se transforma em um grande pesadelo.
Partindo de uma premissa completamente oposta do estilo de Hollywood de fazer filmes de terror para adolescente Wolf Creek triunfa, ao usar personagens novos, sem estereotipo, dos velhos adolescentes de filme de terror adolescente atrás de sexo, drogas e bebidas, sem contar na quantidade de personagens, são apenas quatro, McLean os conduz com maestria, a primeira hora do filme é só desenvolvimento de personagens e roteiro, talvez por isso algumas pessoas o acharam tão maçante e monótono. Mas depois do desenvolvimento, quando começa o verdadeiro terror dos adolescentes, se inicia o que eu chamo de verdadeiro terror, cenas de suspense que são conduzidas com extrema, eu disse extrema realidade. Um crítico da Revista Veja disse, mais ou menos, “O que mais impressiona é a realidade”, e esse é com o ponto alto de Wolf Creek, assustador, aterrorizante e sanguinário.
A Fotografia também é muito bela, a cratera na Austrália é mostrada como um lugar opressor, quase deprimente.
O Ápice do filme também se deve ao elenco talentoso demais, com atores pouco conhecidos, como Kestie Morassi (muito parecida com a Jennifer Aniston) e Cassandra Margrath que são as duas estrelas do filme, dando veracidade e densidade aos seus personagens, em algum momento da trama a gente se sente até claustrofóbico quando vemos uma tentativa de estupro e a tentativa daquelas garotas de conseguir sair viva e fugir daquele vilão sádico maravilhosamente interpretado por John Jarratt, que com certeza deixa qualquer Leatherface para trás.
O Fato é que Wolf Creek – Viagem ao Inferno, junto com O Abismo do medo, O Exorcismo de Emily Rose e Meninamá.com, entram para o seleto grupo de exemplares do terror moderno.

NOTA 8,5

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Entre Quatro Paredes (In the Bedroom, 2002)


Baseado no conto de André Dubus, Entre Quatro Paredes, o primeiro filme do diretor Todd Field se sai como um dos exemplares do cinema independente mais respeitados de 2002. Um filme que trata sobre perda, culpa e sentimentos ásperos guardados no âmago do ser humano.
Ruth Fowler (Sissy Spacek) e Matt Fowler (Tom Wilkinson) são os pais de Frank Fowler (Nick Stahl), um jovem garoto que se apaixona por Natalie Strout (Marisa Tomei), uma mulher mais velha e divorciada com um ex-marido violento. Uma mistura perigosa que termina em morte, jogando os Fowler em uma armadilha onde o mundo fica pequeno demais para conviver cara a cara com o assassino de seu único filho.
Uma de suas carcteristicas mais predominantes é a metáfora, em certo momento Matt Fowler explica sobre a armadilha de pegar lagostas, chamada "quarto" que não suporta duas ao mesmo tempo e uma vai acabar ferindo a outra, ou matando. É exatamente o que acontece com eles e o assassino ao longo do filme, como se aquela cidade fosse o "quarto".
O elenco certamente é a força de sustentação do filme, com destaque para Tom Wilkinson e Sissy Spacek. Tom Wilkinson que tem uma carreira extensa, mas pouco conhecida, cria o personagem de forma cautelosa e detalhista, transmite leveza e cria nuances que variam entre a calma e o desespero, sem jamais cair no óbvio, algumas vezes não demonstra expressividade nenhuma como se fosse uma caracteristica do personagem. Sissy Spacek (atriz que venero desde o clássico Carrie) exibe de sua Ruth Fowler na vitrine de sua carreira, expressa no olhar a dor e a culpa de perder um filho de forma tão cruel, expressa nos gestos o desgosto com a vida e principalmente com o marido, resultando num equilíbrio impressionante de personalidade, não é a toa que Spacek voltou a ser a queridinha dos críticos e colecionou prêmios da crítica e no Festival de Sundance. Marisa Tomei, prova maturidade, já que está no único filme decente de sua carreira. Considero a melhor cena do filme aquela em que as cartas são jogadas na mesa entre Ruth e Matt Fowler, ela o culpa por ter encorajado o filho e ele a culpa por ser tão cruel e amarga, um espetáculo conduzido com maestria.
A Fotografia de Antônio Calvache, responsável pela fotografia de Pecados Íntimos, torna aquela cidadezinha quase claustrofóbica, silenciosa, e pouco movimentada, só aumenta o clima de suspense e solidão dos personagens.
Todd Field parece ter aprendido algo com Kubrick já que trabalhou com ele no ótimo De olhos bem Fechados, em 2002 ele entrou para o grupo seleto de diretores promissores. Dividiu o filme em 3 atos, primeiro mostrando a vida daquela família, depois a morte do jovem e por fim o que aquela família fez pra tornar sua dor menor, como uma válvula de escape. Todd Field para mim já é um dos melhores diretores - revelação, junto com Rodrigo García que dirigiu o ótimo Questão de Vida e Coisas que você pode dizer só de olhar para ela.
Entre Quatro Paredes, é um filme que merece uma conferida, só pelo tema que aborda, algo difícil de se ver no cinema hoje em dia e de forma tão maravilhosa.
Ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance para Tom Wilkinson e Sissy Spacek e foi indicado ao Grande Prêmio do Júri para Todd Field.

NOTA 9,0
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