domingo, 15 de julho de 2012

Sinédoque, NY (Synecdoche, New York, 2008)




       "Sinédoque, NY" é um filme pessimista e realista sobre os fracassos de uma ou de todas as vidas. Passamos a vida inteira ouvindo frases de auto-ajuda como "Todo mundo é protagonista de sua própria história", e em um certo momento do filme, seu protagonista chega a repetir essa frase, mas só para logo em seguida testemunharmos de que essa não é bem a verdade, haja vista que a vida do diretor teatral Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman) parece criar vontade própria e excluí-lo de tudo, assim como fizeram todas as mulheres que o conheceram, até ele se tornar um mero boneco que exerce atividades diárias banais ao som de uma voz que sai de sua cabeça lhe dizendo tudo o que fazer.

Além de ter escrito o roteiro, Kaufman também estréia na direção e parece bem intencionado em brincar com todas as frases de efeito que costumamos ouvir durante nossas vidas, como: "A vida é um palco". Em Sinédoque NY, a vida é um palco mesmo, literalmente. Caden Cotard é homenageado com um prêmio que lhe proporciona um orçamento enorme para realizar o espetáculo teatral de sua carreira, de grande magnitude, desde então Caden passa anos tentando realizar a grande obra de sua vida, a sua vida. Tudo se torna tão grande, mas tão grande, que aos palcos sua criação começa a tomar-lhe conta, é tudo muito megalomaníaco, o que cria uma linda ironia ao descobrirmos que sua ex-mulher Adele Lack (Catherine Keener) é uma artista que trabalha com pinturas em miniaturas, que as pessoas só conseguem vê-las completamente usando um óculos microscópico, o que revela a absurda discordância dos dois artistas, tanto na vida profissional quanto na vida amorosa.

O primeiro filme escrito por Kaufman que assisti foi Adaptação, há muitos anos, e lembro de ter amado a experiência justamente pela forma sutil como ele trata seus personagens, logo depois vi Brilho Eterno de uma mente sem lembranças, e foi outra experiência inigualávelmente bela. Desde então, pensei que Kaufman não pudesse se superar, mas estava absurdamente errado, em Sinédoque NY, ele não só se supera como cria uma outra obra-prima. É um filme completamente autoral, é feito por Kaufman para Kaufman, talvez isso seja o mais incrível na obra, o exercício catártico de um grande escritor, agora também diretor.

Sinédoque NY não é mais um filme, é um evento cinematográfico. Apesar de ter um elenco formidável, desde Catherine Keener (uma das melhores atrizes da cena independente americana) até Philip Seymour Hoffman, passando por Diane Wiest, o filme não é de nenhum deles. Ao acabar temos a sensação de ter presenciado um ato egoísta, é um filme de Kaufman, por Kaufman, para Kaufman, o que só engrandece a obra. Sinédoque NY é obrigatório, lírico, uma aula de cinema e teatro.

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