"Sinédoque,
NY" é um filme pessimista e realista sobre os fracassos de uma ou de todas
as vidas. Passamos a vida inteira ouvindo frases de auto-ajuda como "Todo
mundo é protagonista de sua própria história", e em um certo momento do filme,
seu protagonista chega a repetir essa frase, mas só para logo em seguida
testemunharmos de que essa não é bem a verdade, haja vista que a vida do
diretor teatral Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman) parece criar vontade
própria e excluí-lo de tudo, assim como fizeram todas as mulheres que o
conheceram, até ele se tornar um mero boneco que exerce atividades diárias
banais ao som de uma voz que sai de sua cabeça lhe dizendo tudo o que fazer.
Além
de ter escrito o roteiro, Kaufman também estréia na direção e parece bem intencionado
em brincar com todas as frases de efeito que costumamos ouvir durante nossas
vidas, como: "A vida é um palco". Em Sinédoque NY, a vida é um palco
mesmo, literalmente. Caden Cotard é homenageado com um prêmio que lhe
proporciona um orçamento enorme para realizar o espetáculo teatral de sua
carreira, de grande magnitude, desde então Caden passa anos tentando realizar a
grande obra de sua vida, a sua vida. Tudo se torna tão grande, mas tão grande,
que aos palcos sua criação começa a tomar-lhe conta, é tudo muito
megalomaníaco, o que cria uma linda ironia ao descobrirmos que sua ex-mulher
Adele Lack (Catherine Keener) é uma artista que trabalha com pinturas em
miniaturas, que as pessoas só conseguem vê-las completamente usando um óculos
microscópico, o que revela a absurda discordância dos dois artistas, tanto na
vida profissional quanto na vida amorosa.
O
primeiro filme escrito por Kaufman que assisti foi Adaptação, há muitos anos, e
lembro de ter amado a experiência justamente pela forma sutil como ele trata
seus personagens, logo depois vi Brilho Eterno de uma mente sem lembranças, e
foi outra experiência inigualávelmente bela. Desde então, pensei que Kaufman
não pudesse se superar, mas estava absurdamente errado, em Sinédoque NY, ele
não só se supera como cria uma outra obra-prima. É um filme completamente
autoral, é feito por Kaufman para Kaufman, talvez isso seja o mais incrível na
obra, o exercício catártico de um grande escritor, agora também diretor.
Sinédoque
NY não é mais um filme, é um evento cinematográfico. Apesar de ter um elenco
formidável, desde Catherine Keener (uma das melhores atrizes da cena
independente americana) até Philip Seymour Hoffman, passando por Diane Wiest, o
filme não é de nenhum deles. Ao acabar temos a sensação de ter presenciado um
ato egoísta, é um filme de Kaufman, por Kaufman, para Kaufman, o que só
engrandece a obra. Sinédoque NY é obrigatório, lírico, uma aula de cinema e
teatro.
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