terça-feira, 31 de julho de 2012

A Mulher Canhota (The Left-Handed Woman, 1976)




É verdade que nossa sociedade vive em uma ditadura da felicidade, onde todos aparentemente são felizes e sabem exatamente o que isso significa, o que nos qualifica ensinar ao próximo o que é ser feliz, e empurrar goela abaixo todos os nossos parâmetros e regras que ninguém pode deixar de seguir.

A Mulher Canhota nos apresenta uma Alemanha pós-guerra, triste, gélida, desconsoladora e que nos convida ao afastamento humano aliás, me arrisco a dizer que o lugar funciona como personagem coadjuvante da história, já que esta sempre se apresenta como um local desconfortável, suas ruas têm sempre pouquíssimas pessoas e sua paisagem para ser estar em um constante estado de depressão, traduzindo o estado de espírito de sua personagem principal, como por exemplo, um bosque que se apresenta com suas árvores cortadas, logo depois da fatídica decisão.

O filme é baseado no livro de Peter Handke, e conta a história de Marianne, mulher inteligente e de meia idade, que por um motivo desconhecido resolve mandar o marido sair de casa e resolve viver sozinha com seu filho ainda pequeno, abrindo mão da família, do conforto financeiro para viver uma vida sozinha e por vezes solitária.

O fato é que nunca descobrimos por parte de Marianne porque esta se separou do marido, já que este se revela um homem ideal, trabalhador, fiel e preocupado com a família. Ela toma a decisão e sequer se dá o trabalho de justificá-la. O diretor Peter Handke, parece sempre nos instigar a descobrir o motivo, mas sem nunca dar pistas ou conclusões suficientes para que possamos fazê-lo, o que só aumenta mais o interesse Parece que Marianne resolveu se desafiar e desafiar as pessoas próximas de que é capaz de levar uma vida sozinha, mas não solitária, embora todos ao seu redor achem um absurdo sua decisão e tentem a todo o momento convencê-la de voltar atrás, e esta se mostra irredutível.

Marianne lança a mão de uma vida segura, confortável e aparentemente feliz para viver sozinha em uma casa imensa, perambulando nas ruas de sua cidade, vivenciando a sua vida consigo mesma.

Hoje, tomar uma decisão como essa parece loucura, já que vivemos em uma sociedade normativa que estabeleceu regras que servem como manuais de como sermos felizes, especialmente para as mulheres, que desde cedo são educadas para serem boas esposas, donas de casa e mães. Aqueles que abdicarem dessa ideia são loucos e não têm a menor chance de serem felizes.

O roteiro parece ser criado ao acaso, onde depois da decisão de sua protagonista nada mais acontece, não possui ação dramática, é como se estivéssemos testemunhando uma vida acontecendo livremente sob os nossos olhos, Marianne vai sendo levada pelo espaço e pelo tempo, imóvel e desinteressada de mudar de vida.

No final das contas, A Mulher Canhota aparentemente conta a história de uma mulher que resolveu se questionar esses valores rígidos e não foi em busca da felicidade, mas atrás de si mesma, seguindo um caminho completamente diferente das outras (daí o nome A Mulher Canhota). Ao longo da projeção acompanhamos Marianne vivendo momentos de extrema alegria, como passear com seu filho ou mesmo com seu pai, e momentos de extrema solidão, ao chorar sozinha durante a noite olhando a paisagem lá fora. O que prova que tanto as pessoas casadas, com famílias perfeitas e construídas quanto as pessoas sozinhas, que vivem por si mesmas, tem seus momentos de alegria e tristeza e que esses valores são apenas reflexos de uma sociedade fria, autoritária e que não se reconhece, nem a si mesma e nem o seu lugar no mundo. Marianne é um anti-heroína. 

4 comentários:

LELLA disse...

Oi Kaun!

De vez em quando eu passo por aqui, e levo seus textos lá para o "Cinema é a minha praia!". Aí penso em voltar outra hora e deixar um comentário. Mas acabo me esquecendo. Eu digito muito devagar. Tenho tido pouco tempo para a internet. Ficando esse tempo mais nos dois blogs, o de cinema, e esse meu outro pessoal: http://cadeiranteemprimeirasviagens.wordpress.com/

Um pouco mais cedo levei o "Sinédoque, NY". Seu texto é fantástico! Também esse da "A Mulher Canhota". Fiquei com muita vontade de ver.

Sai de um banho, e resolvi visitar uns blogs. Iniciando pelo seu :)

Não tenho ido muito no Orkut, nem no Facebook, nem no Twitter. Nesses dois últimos, se quiser me add, meu perfil é: Praia Cinéfila.

O blog de cinema eu tirei meu nick da url, pagando pelo registro do: cinemaeaminhapraia . Se quiser, pode atualizar o link :)

Vou ver se ano que vem, eu venho mais aqui. Querendo muito que esse 2012 vai embora logo. Perdi meu pai em Setembro. Ainda dói de saudades.

Olha, não sei se o Natal o faz ficar feliz, mas é o que desejo a ti! Assim como um 2013 de muitas realizações!

Beijos,

Kauan Amora disse...

Ola Valéria,
Fico muito feliz que você acompanhe meu blog.

Fique sempre muito a vontade.

Desejo a você também um feliz natal (atrasado) e um 2013 cheio de alegrias.

Beijos.

Mar_D disse...

Legal teu texto. No entanto eu achei que o filme passou extremamente devagar, por causa, é claro, do cotidiano da personagem. E aí não me cativou (porque tem que cativar né!).
A forma como falaste sobre o desenrolar do filme foi bem convidativa. E achei esse blog de repente. E mais legal ainda que vi no outro post que tu és do Pará! hahaha E adorei a ironia do episódio que contaste.
Aqui, agora, uma nova leitora =)

Kauan Amora disse...

Seja muito bem-vinda! =D

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"Se você não vive a própria vida, não é como se vivesse outra vida, é como se não vivesse nenhuma."