sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dente Canino (Kynodontas, 2010)

Ultimamente temos acompanhado na TV através de noticiários casos monstruosos sobre atrocidades que alguns pais cometem contra os próprios filhos, como jogar recém-nascido na lata de lixo, ou simplesmente manter a própria filha trancafiada no porão da própria casa e estupra-la diariamente por anos. Esses casos de atrocidades aos poucos vêm sendo representados no cinema de todo mundo, sempre de uma forma polêmica e perturbadora.

Dente canino pode ser considerado um exemplar desse tipo de atrocidade que o ser humano sempre está disposto a fazer em nome do bem próprio, mesmo que isso signifique ferir e torturar o próprio filho. O filme grego de Yorgos Lanthimos, conta a história dos pais que criaram seus três filhos, um menino e duas meninas, sem a interferência ou influência de qualquer outro ser humano além deles, sem influência da Tv, Jornais ou qualquer outro meio de informação, aos poucos no destrinchar da história podemos perceber a deficiência mental causada pelos pais em seus filhos devido à educação destrutiva. Os três filhos cresceram e apesar de já terem se tornado homem e mulheres ainda agem como se fossem crianças que brincam de bonecas e correm pelo quintal de casa.

O filme que recente e supreendentemente foi nomeado ao Oscar 2011 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro tem uma carga de violência muito grande, não só física, mas também mental, porque a todo o momento ficamos atordoados e nos sentimos perturbados por presenciar tudo aquilo, que há pouco tempo achávamos de que seria impossível de acontecer. A degradação humana chega a um ponto tão absurdo que as “crianças” acham que um simples gato pode se tornar uma ameaça mortal para toda a família como se fosse uma fera sedenta por sangue, já que assim avisou o pai deles, e por causa disso o “menino” acabou cortando a cabeça de um pobre animal com uma tesoura de podar. Em outro momento, o “menino” que só mantém relações sexuais com uma estranha que através do pai vai até a casa deles de carro e com os olhos vendados para não reconhecer o caminho, ouve a palavra zumbi e em um impulso de curiosidade pergunta a mãe o que aquilo significa e ela lhe responde que é apenas uma flor amarela. E por aí vai, como na cena em que vemos uma das “meninas” fazendo sexo oral na estranha em troca de um presente qualquer, e aquelas menina acabam acreditando que lamber as outras pessoas é um gesto de agrado e carinho.

Esse tipo de educação absurda e degradante acaba nos fazendo perguntar como poderia ter surgido e como aqueles pais podem ter a coragem de retardar voluntariamente seus próprios filhos, um dos triunfos do roteiro escrito por Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou é que sempre é deixado em aberto de onde aquilo surgiu, podemos perceber sim que aquilo é iniciativa do pai, já que é ele quem sempre tem as rédeas da situação e que sempre faz tudo para aquilo não sair dos trilhos, já que até sua esposa é mantida de “refém” porque acaba partilhando daquela educação, o que nos leva a pensar por algum momento que aquilo não passa de um ato de crueldade, mas isso o roteiro também não define, o que nos faz pensar também que aquilo é uma espécie de crença que o pai tem e que pode tornar seus filhos melhores desse jeito, como se os fins justificassem os meios.

Dente canino é controverso na sua própria controvérsia, não satisfeito de nos fazer presenciar aquela tortura absurda, ainda não nos oferece nenhuma espécie de consequência ou crítica sobre os danos sociais que aquilo tudo teria causado, ou seja, notadamente é um filme sobre ações e não de consequências, a todo o momento percebemos o quão aquela criação dada pelos seus pais foi destrutiva, mas em nenhum momento podemos perceber uma espécie de crítica ou de julgamento pela parte do diretor e do roteiro, aquilo tudo é aceitável sob todos os pontos de vista, o único lado que parecesse ser atacado e chocado com aquela espécie de existência são as pessoas que assistem e que sabem que a educação modelo e correta certamente seria aquela que estamos acostumados a ver, ou seja, a nossa.


Nota: 8,0

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