terça-feira, 4 de março de 2008

Elefante (Elephant, 2003)


Dirigido pelo comentado e polêmico diretor Gus Van Sant, Elefante não é um filme de fácil digestão, não é um filme fácil de assistido e compreendido. Taxado de chato, monótono até mesmo prepotente o filme é aquele tipo: ame-o ou odeio-o. Escolha o seu lado.

Um dia aparentemente comum na vida de um grupo de adolescentes, todos estudantes de uma escola secundária de Portland, no estado de Oregon, interior dos Estados Unidos. Enquanto a maior parte está engajada em atividades cotidianas, dois alunos esperam, em casa, a chegada de uma metralhadora semi-automática, com altíssima precisão e poder de fogo. Munidos de um arsenal de outras armas que vinham colecionando, os dois partem para a escola, onde serão protagonistas de uma grande tragédia.

Gus Van Sant tem aqui o estudo do adolescente, objeto que ele adora retratar em seus filmes, visto em Últimos Dias, Gênio Indomável e no recente Paranoid Park. Ele trata de um assunto polêmico nos EUA, mas jamais ele coloca a chacina de Columbine High School em primeiro plano, aliás a chacina é apenas coadjuvante (talvez seja por isso o fato de muitas pessoas odiarem o filme), ele quer estudar o adolescente em sua natureza, narrando o que parecia ser um dia normal num ordinário colégio público com alunos namorando, paquerando, conversando, rindo, fazendo trabalhos e etc; e de fato, ninguém do elenco é ator, são apenas alunos normais e muitas conversas ali (como a do refeitório) não são cenas criadas, são cenas verdadeiras, tudo isso acontece antes da terrível tragédia.

Mas o destaque do filme é a montagem não-linear que Van Sant emprega com muita competência durante a projeção, podemos ver determinada cena várias vezes, mas de diferentes pontos de vista, de diferentes ângulos e formas, mas o incrível que é o filme todo foi feito em plano-sequência (planos sem cortes), dando um trabalho imenso a equipe técnica, de enquadramento e aos atores, de posição. Os planos-sequência, só por eles já garantem a genialidade do filme, somados a trilha sonora de Beethoven, tudo soa mais poético.

O filme é de direção, ninguém ali tem tanto destaque quanto Gus Van Sant, por ser ousado e competente na premissa. Ele quer justificar o que leva dois adolescente a entrar numa escola e matar amigos e professores, está tudo ali, a violência gratuita (como a cena em que ele filma insistentemente um jogo de videogame violento ou na cena em que eles recebem sua primeira arma em casa), o sexo, o esteriótipo do adolescente, para alguns essas cenas soam descartáveis, mas são completamente relevantes ao filme, como justificativa, mas o maior disso se deve ao distúrbio mental dos dois, por serem alunos esquecidos, sem amigos e com transtornos psicóticos. Van Sant acompanha sempre seus atores por trás, como se ele quisesse nos colocar no lugar de expectadores (o que somos), como se estivéssemos expiando aquelas pessoas, sempre. Tudo em Elefante, é bem criado, montado e elaborado, até mesmo uma cena do enquadramento do céu por alguns segundos, como metáfora, indicando que tudo ali vai piorar, assim como o céu que está escurecendo.

Desde o título do filme, Elefante, se torna um filme anti-convencional, rompendo com o tradicionalismo de narrativa. Na verdade, o nome se dá por causa de um provérbio chinês, em que vários cegos tocam em um elefante dentro de uma sala, todos descrevem a parte em que estão tocando, mas são incapazes de descrever o elefante em um todo. É como na escola, você vive com os seus amigos, colegas, professoras durante um ano inteiro, conhece alguns, mas jamais vai descobrir quem essas pessoas realmente são.

NOTA: 8,0
Powered By Blogger

Sobre Cinema e Lobos

Minha foto
"Se você não vive a própria vida, não é como se vivesse outra vida, é como se não vivesse nenhuma."