terça-feira, 22 de julho de 2008

Fim de caso (The End of the Affair, 1999)


De vez em quando surgem filmes de romance que nos conquistam, mas existem duas formas de fazer um filme de romance para conquistar o público: 1) Usar de voltas e revoltas na narrativa para fazer o público se emocionar, como Diário de uma Paixão, Titanic e tantos outros. 2) Usar a simplicidade de contar uma história triste, de amor, como As Pontes de Madison, Antes do Amanhecer e Fim de caso.

Numa noite chuvosa de 1946, o novelista Maurice Bendrix (Ralph Fiennes) encontra Henry Miles (Stephen Rea), marido de sua ex-amante Sarah (Julianne Moore). Maurice e Sarah tiveram um tórrido caso dois anos antes, até que, sem qualquer explicação, Sarah terminou o romance. O encontro com Henry reacende a obsessão de Maurice por Sarah, num misto de ciúme e desejo em reencontrá-la. Para tanto, começa uma investigação, para poder entender o porquê do rompimento do romance entre os dois.

Ao usar truques de narrativa interessante o roteirista e diretor do filme Neil Jordan, conquista o público mesmo é com a simplicidade da história, é apenas uma história triste de amor impossível, é um filme sobre ódio, culpa, dor, e principalmente, escolhas. Poucos filmes emocionaram tanto quando esse, a veracidade dos diálogos jamais soam como algo falso, superficial. Neil Jordan trabalha com montagem não-linear, opta por uma ordem não cronológica, e usa truques que outros filmes já usaram, o de ver a mesma cena várias vezes mudando apenas o ponto de vista, de acordo com cada personagem, truque já usado em Elefante, e no recente Desejo e Reparação, montagem muito peculiar essa.

Sobre o elenco, Julianne Moore, como sempre competente, exerce uma personagem amargurada e ao mesmo tempo corajosa, correndo desesperada atrás de sua felicidade, passeando por vários sentimentos como medo, amor, dúvida, é sempre bom ver o trabalho minimalista dessa atriz, que a cada trabalho muda, ela não engorda ou emagrace, mas muda, a forma de andar, a voz (é impressionante o trabalho de voz de Julianne Moore), não é a toa que tem o reconhecimento que tem, é porque merece. Agora chegando ao ponto surpreendente do elenco, Ralph Fiennes, contracenando ao lado de Moore, mas não é ela quem chama a atenção, é Fiennes, estabelecendo Maurice como um sujeito dúbio, em certo momento do filme ele pede á Sarah: “Por favor, não vá”, até então o personagem não sabe que ao ir embora, Sarah o estará deixando para sempre, mas Fiennes estabelece um jogo dúbio com o expectador, falando como se já soubesse que provavelmente não veria mais sua amante. É bom quando o ator estabelece esse jogo de ambigüidade ao expectador, permitindo várias interpretações daquilo, e ao dizer “Por favor, não vá”, poucas vezes vimos tamanho desespero e amor sem o ator sequer piscar os olhos, acredito que só vi esse tipo de cena uma vez, em Sleepers – Vingança Adormecida, quando Dustin Hoffman ameaça outro personagem sem sequer olhar para ele. Tenho certeza de que se Ralph Fiennes fosse indicado ao Oscar, essa seria sua cena exibida, e com méritos. Por último, Stephen Rea, competente no que lhe é proporcionado, apesar de seu personagem não ser bem desenvolvido pelo roteiro e não ter a importância que merecia e podia, ele se sai bem como o desiludido Henry Miles.

A trilha de de Michael Nyman, o mesmo do ótimo O piano, é excelente, comovente e triste. A fotográfica é ótima, desde as cenas de bombas perto do apartamento de Maurice aos enquadramentos de quando os dois estão junto, quando Maurice e Sarah se beijam na chuva.

Só tem uma palavra que pode resumir Fim de caso: antológico. Daqui a 10 ou 20 anos, quando se falar em filmes de romance, não só As Pontes de Madison ou Antes do Amanhecer serão citados, mas Fim de Caso também estará nessa lista. Um filme inesquecível.
NOTA: 7,5

Um comentário:

Stella disse...

Tantos elogios e só 7,5? :-(
Fim de caso merece 10! ;-)

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