É preciso de
muito cuidado ao falar de filmes como Hunger, o primeiro filme do diretor Steve
McQueen, pois é muito fácil elogiá-lo pela ousadia e pela macabra transformação
que seu personagem principal sofre, interpretado por Michael Fassbender, mas é preciso
uma análise mais detalhada do filme como um todo.
Decidido a
mostrar o inconformismo e guerra do povo britânico perante o governo polêmico
de Margareth Thatcher sob outro ângulo, Steve McQueen além de ousado, possui um
imenso conhecimento técnico cinematográfico, desde os primeiros momentos da
projeção já possível perceber que não se trata de um filme comum e nem um filme
de fácil de digestão, alternando entre momentos de extremo silêncio e outros de
torturas, o filme nos causa náuseas e admiração, ao mesmo tempo.
O grande
Michael Fassbender, que já começou a ser esnobado pelas grandes premiações do
cinema norte-americano desde esse filme, exerce um belo trabalho, mas não, não
por causa de sua assustadora transformação física, chegando a um estado desumano
de magreza, mas pela grande presença e segurança que estabelece desde seu
primeiro momento em cena. Sempre preocupado em justificar as ações de seu
personagem, graças ao competente roteiro escrito também pelo seu diretor, ele
faz com que enxerguemos seu personagem como um ser real, movido por suas causas
políticas e mostrando-se sempre irredutível ao que acredita. Seus maiores
momentos não estão na exibição de sua magreza, mas sim no seu incrível monólogo
ao conversar com o padre, no qual se mostra como um ser com uma grande
inquietação política e com fortes argumentos. Uma figura forte, sem dúvidas.
Acredito que
os únicos momentos que o filme peca, são os quais revelam uma exacerbada frieza
de seus personagens, como a figura materna que não tem força alguma e na cena
em que seu filho o visita.
Hunger, sem
dúvidas, é um filme forte, autoral e que inicia um excelente trabalho em dupla
de seu ator e diretor, que merece perdurar durante os anos.